Leticia Tizioto
2 min readNov 27, 2020

Este autor eu desconheço

Para toda escrita é necessário um autor. Tudo o que é produzido tem uma fonte criativa e isso não é novidade para ninguém. O que pouco se pensa é: quem é esse autor? E como ele se constitui?
Por trás de um livro são inúmeros os autores que atuam em sua composição. Revisor, tradutor, escritor — como em casos de autobiografias escritas por outrem — diagramador, editor, ilustrador... seria mesmo justo a estampa gigante e brilhante que é vendida com um único nome de "organizador"?
A quem deve ser designada a autoria em si?
O ser autor vai muito além do ser escritor: envolve a autorização de um dizer e a percepção, decisão e administração de uma pluralidade vendida com uma nomeação singular. 
Pensar nos traços autorais e nas questões de estilo de um texto é talvez adentrar no entendimento de que tal material tenha passado por diversas fases e versatilidades até chegar no produto final que lemos. Há de se perguntar: será que o próprio escritor vê esse produto final compreendendo os mesmos sentidos iniciais e planejados?
O autor — como já diz o próprio nome — é uma autoridade do texto e se inscreve numa obra explicitando sua ideia. Porém o escritor, após ter seu fragmento articulado pela mão de vários até chegar no que chamamos "obra" não pode garantir que aquele texto é de fato aquele texto. Até porque, se as palavras significam, usar "índios" ou "indígenas" já faz transparecer um posicionamento extralinguístico. E que posicionamento é esse? Advindo de quem afinal? 
Pensando ainda em casos mais corriqueiros, em tempos de pandemia no mundo à distância, muitas são as postagens que nos chegam 24 horas por dia. Diante disso, tenho me perguntado: os posts compartilhados por mim, recebem minha autoria? Meu mural pessoal ou — se valendo do termo das redes — meu "feed" seria apenas um espaço de reprodução de discursos outros? Ou ao compartilhar, assumo uma responsabilidade sobre tal pensamento e logo sou também uma autora?

L.T

27/11/2020